Depois que escrevi sobre o neocartógrafo, fiquei com a sensação de que fui injusto. Alguns comentaram sobre esse "novo" profissional e me toquei que a confusão estava formada.
Não, o neocartógrafo não é "neo", é na realidade "old". Mas antes precisamos definir exatamente o que é um neocartógrafo.
Neocartógrafo é aquele profissional, que pode ser um engenheiro não cartógrafo, ou um matemático ou um analista de sistemas, mas na realidade pode ter qualquer formação. O que vai defini-lo será sua capacidade de programar computadores, utilizando algoritmos matemáticos e o uso intensivo de soluções matemáticas. Eles existem desde os primórdios da cartografia computacional.
Em 1990 trabalhei na Complasa, subsidiária de informática da Aerofoto Cruzeiro, e meu chefe imediato era um senhor de idade, engenheiro eletricista de formação, se não me engano, e sabia muito de "neocartografia". Para ele tudo era FORTRAN, e tinha algoritmo para tudo, transformação de coordenadas inclusive. Ou seja, ele realmente entrava na área de atuação do cartógrafo. Na época ele queria passar todo o código já feito de Fortran para C, e eu entrava aí. Mas não se percebeu melhoria na velocidade de processamento e o C dificultava para ele e outros trabalharem. Logo a idéia foi descartada e não sei se algum dia foi retomada.
Conheci alguns neocartógrafos desde então, mas o único que merece nota conheci em 1999 numa pequena software house que implementava um sistema para navegação (cartas náuticas eletrônicas). Fui chamado para confirmar o que ele fazia do ponto de vista cartográfico. Ele era engenheiro formado pelo IME e era muito bom. Como ele era o líder do projeto me passava rotinas a serem implementadas, o que eu suava um pouco (pois tinha acabado de cair de paraquedas no projeto) mas resolvia o problema. Mas, depois de algum tempo ele veio conversar comigo e me mostrou a codificação que ele mesmo tinha feito para cada uma das rotinas que havia me passado e me disse que não viu nada realmente diferente na minha codificação. Fiquei profundamente irritado, pois ele não me falou que já tinha feito tudo e estava apenas querendo confirmar. A conclusão foi que apenas em rotinas de conversão para Lambert ele precisava de mim. O resto todo era matemática e informática pura...
Nos dias de hoje o neocartógrafo praticamente não precisa do cartógrafo porque ele pode utilizar bibliotecas de funções que resolvem todo o problema cartográfico.
É esse profissional que muitas vezes é arrogante e desmerece o trabalho do cartógrafo. Claro que devem ter exceções. Os antigos neocartógrafos, por outro lado, sabiam trabalhar com a gente, apesar de às vezes nem precisarem. Esses eram bons realmente.
Ou seja, o neocartógrafo atual é aquele que sabe programar computadores, conhece muita matemática e tem acesso a uma ótima biblioteca de funções cartográficas. E do jeito que a tecnologia está, eles não precisam da gente, mesmo não tendo a capacidade ou mesmo o conhecimento cartográfico dos "oldneocartógrafos".
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Marco Antonio Perna é engenheiro cartógrafo pela UERJ com mestrado em Sistemas e Computação pelo Instituto Militar de Engenharia. Possui experiência desde 1992 como consultor/analista de desenvolvimento em geoprocessamento (especialmente projeções, sistemas de coordenadas e processamento de imagens). Começou a trabalhar com informática em 1987 e hoje é analista de sistemas da Faculdade de Engenharia da UERJ, sendo responsável pelo desenvolvimento em internet em C, PHP, CSS, Javascript, HTML, MySql, Feed RSS, Javascript do Google Maps etc.
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